Festas Tradicionais em Abrã
Longos são os relatos, as histórias e as recordações dos festejos tradicionais existentes em Abrã, em honra de Santa Margarida, padroeira desta freguesia deste 1693, ano em que foi erguida a igreja matriz.
Contam as pessoas mais velhas desta sede de freguesia que, outrora, os trabalhos para a realização dos festejos eram muito maiores, dado que, de ano para ano, se tinham de fazer coretos e quermesses novos, uma vez que não existia um espaço para a sua arrumação e os seus materiais de construção se deterioravam (troncos, rama de eucalipto e folhas de palmeira). Estes, apesar de poderem ser colocados em sítios distintos, tinham que ser sempre colocados em redor da Igreja Matriz. No centro do coreto era colocado um mastro alto onde era içada, na manhã do primeiro dia de festa, a Bandeira Nacional acompanhada do respetivo Hino, sendo que quanto maior fosse o mastro, maior seria o donativo dado pela população.
Desde que há memória, estes festejos sempre se realizaram no mês de Agosto e, tal como agora, eram organizados por um conjunto de pessoas, denominado por Comissão de Festas. Esta comissão era, normalmente, constituía por um juiz, um escrivão, uma juíza, uma escrivã e ainda seis mordomos e seis mordomas, perfazendo um total de dezasseis pessoas.
O juiz era o elemento mais importante, competindo-lhe tomar as decisões mais importantes no que se referia à organização dos festejos. Para além de organizar os mordomos, era o juiz o responsável por, juntamente com o escrivão, retirarem o dinheiro colocado pela população nos andores como forma de devoção aos Santos durante e após a procissão. No final de cada festa, o juiz decidia o que fazer com os lucros obtidos, sendo que normalmente eram utilizados para o melhoramento da terra. Durante os festejos, o juiz era a única pessoa que poderia deitar foguetes de três tiros, utilizados para que a Comissão de Festas se reunisse no adro da Igreja.
Por seu lado, a juíza era o elemento feminino com mais importância, competindo-lhe a ela todos os trabalhos inerentes à organização da quermesse e, juntamente com a escrivã, era responsável pelo dinheiro obtido através da venda de rifas.
Tanto os rapazes como as raparigas faziam antecipadamente peditórios nas populações vizinhas, chegando mesmo a estender-se a populações mais distantes, onde obtinham géneros alimentares (trigo, milho, azeite, feijão, carne, etc.) e prendas para serem rifadas na quermesse.
Para que a Comissão de Festas se pudesse diferenciar da restante população, os membros que a constituíam vestiam capas, sendo as dos rapazes de cor vermelha e as das raparigas de cor branca. Para além disto, também usavam uma fita no braço, os rapazes de cor vermelha e as raparigas de cor-de-rosa.
A povoação de Abrã está dividida em dois lugares: o lugar da Abrã Grande e o lugar de Abrã Pequena. Uma vez que os festejos tinham a duração de dois dias, os bailes eram realizados no primeiro dia de festa no lugar de Abrã Pequena e no dia seguinte no lugar de Abrã Grande. O peditório à população era sempre realizado no dia de missa, seguida da procissão.
À saída e chegada da procissão era tradição tocar o sino a repique. Nesta procissão, que passava pelas principais ruas da terra enfeitadas com bandeiras de pano e arcos feitos com folhas de palmeira, participavam os andores com as imagens dos Santos, os Anjinhos (crianças vestidas a rigor), as fogaças oferecidas pelo juiz, pela juíza, pela escrivã e restantes mordomas, transportadas à cabeça pelos rapazes da Comissão de Festas. É de salientar que, dado ao seu tamanho, as fogaças da juíza e da escrivã tinham de ser transportadas ao longo da procissão por dois rapazes. A procissão era sempre acompanhada pela população e pelo "Solidó" que, no final da mesma, tocava uma música no interior da Igreja.
Com o passar dos anos e após serem realizados alguns melhoramentos na Igreja e na povoação, houve a necessidade e o desejo de se criar uma Associação Cultural e Recreativa, passando os lucros das festas para a construção da mesma. Nos finais dos anos 70, um conjunto de homens com o apoio de toda a população conseguiu fundar esta associação. Desde então e até aos nossos dias todos os lucros obtidos através da realização dos festejos tradicionais têm revertido a favor de melhoramentos na Associação Cultural e Recreativa de Abrã (ACRA), sendo que os lucros da festa de 2000/2001 reverteram a favor da construção do coreto no adro da igreja. Ao longo de cada ano, a Comissão de Festas vai realizando eventos e peditórios na povoação afim de angariar fundos para dar continuidade aos melhoramentos da ACRA.
Atualmente, a Comissão de Festas é composta por 25 elementos, sendo sete raparigas e dezoito rapazes.
Ao longo dos tempos, houveram tradições que não se perderam, como o içar da Bandeira Nacional ao som do Hino; as responsabilidades dos juízes e das festeiras; a oferta das fogaças; o toque do sino no inicio e no fim da procissão; os andores com as imagens dos Santos e as crianças vestidas de Anjo, na procissão; e o terminar da procissão, com a entrada da banda na Igreja a tocar uma música dedicada a Nossa Senhora.